Queria viver a todo custo - mesmo que isso signifique me autodestruir.
Esse ano eu terminei a escola, por motivos maiores (não foi falta de nota) não consegui entrar na faculdade esse ano. Não tenho amigos. Não trabalho, mesmo porque eu ainda nem tenho meu diploma. Não vou à igreja, nem à academia, não pratico esporte, não faço aula de nada (ainda). Mas assim os dias vão se passando nesses 3 meses longe da escola: um grande nada.
E eu queria viver. Costumo falar bastante essa frase em qualquer oportunidade que eu tenho. Eu só queria viver, mas o que seria o meu “viver”?
Eu sempre gostei de consumir desde muito cedo filmes e séries adolescentes. E eu costumava acreditar que minha adolescência seria assim — ou ao menos deveria ser assim. Eu teria vários amigos, iríamos pra várias festas, beberíamos, usaríamos drogas e etc. Mas a realidade foi cruel.
Eu sou introvertida, esquisita, tímida, quieta, básica, sem sal, nada interessante. Mas eu mantive esperanças até meu último ano escolar. Sempre acreditei que poderia melhorar. “Nesse ano vai, agora vai.” Nunca foi. Eu mentiria se falasse que eu não tive boas experiências. Eu beijei, namorei escondido, matei aula pra ir pra casa de garoto, coloquei piercing sem permissão… mas não foi o suficiente. Eu queria mais. Parece que todas essas coisas que eu fiz foram totalmente guiadas pelo meu impulso de querer fazer alguma “merda adolescente”, e ainda assim não foi o suficiente.
Por que eu nunca me encaixei em grupinho nenhum? Por que eu sempre me senti deslocada? Por que eu sentia que todos me odiavam? Por que eu nunca fui à festas? Por que eu não saí mais? Por que meus pais foram tão rígidos? Por que eu não fiz mais amigos? Por que eu não fui mais extrovertida? Por que eu não fui atrás de drogas? Por que eu perdi tanto tempo?Mesmo ainda sendo jovem, sinto que nunca mais terei o tempo que está passando agora, nunca mais o recuperarei, nunca mais nada será igual, e mesmo que eu tenha essas experiências no futuro, nada será igual.
Um "sonho” esquisito que eu sempre tive foi o de usar drogas — na verdade, só experimentar. Talvez eu realmente tenha caído na lavagem cerebral de achar que pra ser descolado tem que usar, beber, transar e ser “vida loka”, mas pra mim isso sempre foi “viver”. Claro que eu sabia dos riscos, mas o que realmente contava pra mim era a “experiência”, o “glamour”, o “aesthetic”. Muito por conta de que eu sempre vejo pessoas até mais novas do que se gabando que eles usaram maconha ou coca, e isso sempre me despertou muita inveja, eu fico tipo: “Por que não eu? Por que eu não estou vivendo aquilo? Por que eu tenho que ser só uma telespectadora de algo que eu queria viver?”
Em um dos meus “surtos semanais de quarentena (posso considerar minha rotina como quarentena, certo?) eu estava desesperada querendo usar algo a todo custo, principalmente pra me ajudar com a dor da solidão. Então eu vi alguns vídeos sobre cocaína e caí no perfil de uma ex viciada, e os relatos dela eram extremamente desconfortáveis. Aquilo foi meu Proerd e me motivou a não querer chegar perto disso. Isso me leva a refletir que talvez eu não queira usar droga pra viver, talvez eu queira viver pra poder ter uma oportunidade de decidir se eu quero ou não usar. No fim, eu só quero toda a liberdade, vivências e experiências que pessoas da minha faixa etária têm e sempre tiveram, e a droga pode ser só uma metáfora pra expressar esse meu desejo repreendido.
Eu sei que a vida não acaba depois da escola, não acaba depois dos vinte, dos trinta e etc. Mas é mais sobre o tal do FOMO, sobre o tempo perdido que eu nunca mais vou recuperar e nem viver — ao menos não do jeito que eu queria que tivesse sido.
Mas por enquanto sigo tendo que ver e engolir a seco as pessoas falando sobre todas as coisas que eu gostaria que fosse comigo.
Jealousy, jealousy.
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